Ainda que fora das pistas nas Olimpíadas deste ano, Leticia Bufoni não está totalmente afastada do skate olímpico. Convidada para ser auxiliar de repórter pela TV Globo e embaixadora dos Jogos, Leticia abriu a final feminina do skate street em Paris e celebrou de perto a medalha de bronze de Rayssa Leal. A cereja do bolo veio na final masculina, quando ela sentou ao lado de ninguém menos que Snoop Dogg e protagonizou um dos momentos mais compartilhados do evento até aqui.
"Snoop me convidou para assistir ao street com ele e ensinar sobre o formato! Zerei o game...", escreveu ela nas redes sociais.
Nesta terça e quarta-feira (06 e 07 de agosto), ela volta a segurar o microfone durante as provas de skate park feminino e masculino, respectivamente. As competições, que acontecem no espaço urbano da Praça de La Concorde, têm Dora Varella, Isadora Pacheco, Raicca Ventura, Pedro Barros, Luigi Cini e Augusto Akio como representantes do Brasil.
"Vou trazer o que está acontecendo no campeonato durante os intervalos. Fico ao lado dos atletas acompanhando tudo de pertinho e trazendo algumas informações para a galera que está em casa assistindo à transmissão ao vivo", detalha Leticia, de 31 anos, sobre sua participação na cobertura olímpica.
Em entrevista à Vogue Brasil, a skatista relembra a decisão de não competir em Paris, fala sobre sua amizade com a fadinha Rayssa, relata a primeira experiência como repórter e entrega os projetos pessoais, que vão além do skate e incluem um novo esporte. "Amo desafios! Não à toa que venho sempre me propondo a coisas novas". Veja o bate-papo completo abaixo!
Vogue Brasil: Como foi a preparação para assumir o microfone em rede nacional?
Leticia Bufoni: Apesar de já conhecer bem os skatistas, me preparei muito acompanhando eles nas competições e lembrando de detalhes da trajetória de cada um para trazer suas histórias durante a transmissão. Tenho encarado este desafio com muita empolgação!
Vogue Brasil: No começo do ano, em entrevista à Vogue, você disse que decidiu não participar destas Olimpíadas para focar em outros projetos. Foi difícil tomar esta decisão?
Leticia Bufoni: Ficar de fora do maior evento esportivo do planeta, fazendo o que mais amo fazer, nunca vai ser uma decisão fácil. No entanto, pausar para focar nos meus empreendimentos [Mamba Water, a primeira marca de água enlatada do Brasil, Mikuna Foods, marca de proteínas plant based, e Mad Rabbit, marca vegana de produtos de tatuagem] era um movimento necessário e isso me trouxe paz. Foi preciso focar nos negócios, justamente para eles darem tão certo como estão dando agora. Para estar em uma Olimpíada, você precisa dedicar muito do seu tempo, assim como nos negócios. Senti que este momento da minha vida pedia uma atenção maior às empresas e em outros projetos que queria me dedicar. Foi muito bom ter seguido esse meu "feeling".
Vogue Brasil: Qual a diferença entre participar dos Jogos como atleta e como repórter e embaixadora?
Leticia Bufoni: Como atleta é muita pressão. Não conseguimos aproveitar para assistir aos outros esportes, por exemplo, pois estamos muito focados nos treinos e na competição. Desta vez, vindo como embaixadora dos Jogos e repórter da Globo, vou poder aproveitar muito mais, assistir às competições. Outra coisa que mudou da minha primeira experiência olímpica para esta é que, além da gente não ter família, amigos e plateia em Tóquio por conta da pandemia, também não tivemos nenhum de nossos patrocinadores, o que nos impediu de viver a experiência olímpica completa. Então, desta vez, estou vivendo o espírito olímpico de uma outra forma, mas com todo o seu encanto também.
Vogue Brasil: Assistindo à sua modalidade, tão bem representada pela Rayssa, ficou uma vontade de estar ali com os outros atletas e tentar uma medalha olímpica?
Leticia Bufoni: Acho que sempre dá uma vontade, porque esse é o espírito de todo atleta, mas acredito que esse é o momento dessa geração. Elas estão representando muito bem e me sinto em paz, porque sei que também tive um papel importante, desde quando comecei e tudo que construí, até servindo de referência e inspiração para que surgissem novas skatistas. Mas, como disse, esse é o momento delas e o Brasil está muito bem representado.
Vogue Brasil: A sua amizade com a Rayssa emocionou muitos brasileiros durante os Jogos de Tóquio. Vocês seguem bem próximas?
Leticia Bufoni: Sim, continuamos muito próximas. Por mais que a gente não se veja tanto quanto antes, por eu não estar indo em todas as competições, a gente está sempre se falando, sempre fazendo videochamadas. Antes da prova dela, aqui em Paris, passamos a maior parte do dia juntas, na Vila. Almoçamos, ela me mostrou todas as voltas, as manobras que pretendia fazer e eu estava ali mais como um apoio. A gente tem uma conexão muito forte e é legal ter alguém que te conhece tão bem e te passa tranquilidade. Então, minha função com ela foi dar suporte. Por mais que eu estivesse trabalhando, estava ali pertinho e ela sabia que podia contar comigo.
Vogue Brasil: Qual lugar o skate ocupa na sua vida agora? Seguirá competindo como skatista profissional ou pretende dar uma pausa na carreira?
Leticia Bufoni: O skate ainda é o principal na minha carreira, continuo me dedicando muito. Não estou fazendo o circuito inteiro, como já disse antes, mas ainda estou fazendo algumas competições durante o ano. Esse ano já tive X Games, nas próximas semanas terei uma competição na Alemanha… Estou bem focada em projetos de vídeo. Um dos motivos pelos quais eu não quis competir nestas Olimpíadas era para focar nisso, nos meus projetos, então o skate continua sendo o foco, mas de uma forma diferente. Não o skate como forma de competição.
Vogue Brasil: Em entrevistas anteriores, você falou sobre como o skate é um ambiente muito masculino e sobre como isso moldou algumas atitudes suas. Como avalia a presença feminina no esporte hoje em dia?
Leticia Bufoni: As coisas estão mudando para melhor, mas ainda tem muita coisa para melhorar. O número de mulheres no skate vem aumentando cada vez mais e isso é muito bom. O skate vem sendo cada vez mais inclusivo. Esta é a prova de que é importante persistir, mesmo quando todos te dizem que ali não é o seu lugar. É preciso entender que a mulher pode ocupar o lugar que ela quiser.
Vogue Brasil: Além do skate, outro esporte tem brilhado seus olhos: o automobilismo. Como surgiu esse interesse?
Leticia Bufoni: Sempre gostei muito de carros. Desde os 12 anos corria de kart, mas minha carreira no skate acabou crescendo. Então, parei com o kart e há três anos voltei a correr de carro na modalidade off-road. Nesses últimos dois anos, tenho investido bastante no automobilismo. A Porsche Cup estava procurando alguém aqui no Brasil que tivesse um perfil muito parecido com o meu. Eles viram as minhas postagens sobre automobilismo e se interessaram. Para mim foi perfeito, porque nesses últimos dois anos fiz bastante off-road, que é um modelo totalmente diferente. Esse convite veio na hora certa trazendo a oportunidade de correr na pista, de um jeito que sempre quis.
Vogue Brasil: É seu objetivo ser uma atleta de alta perfomance também no automobilismo, quer investir nisso agora?
Leticia Bufoni: É meu objetivo, sim, ser uma atleta de alta performance no automobilismo. Estou muito empolgada com tudo que está acontecendo e está acontecendo muito rápido. Estreei na Porsche Cup este ano e a categoria de base está me dando muito treinamento e ensino. Então, ano que vem pretendo mudar de categoria e me dedicar ao máximo possível no automobilismo e também continuar com a minha carreira no skate. É um pouco complicado, porque acaba sendo correria conciliar os dois, mas graças a Deus está dando certo. Estamos conseguindo fazer todas as competições e eventos de skate e também os de automobilismo. Isso está encaixando muito bem na minha agenda, vamos ver como vai ser o ano que vem, pois vou ter mais etapas do que este ano, mas estou superempolgada e me dedicando ao máximo a isso.
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Vogue Brasil: Quais os planos futuros?
Letícia Bufoni: Meu plano é continuar focando no skate e no automobilismo. Quero, sim, planejar minha vida pessoal, poder casar um dia, ter filhos, mas não é o foco no momento. Minha carreira continua muito ocupada, muitas viagens, muitas coisas acontecendo.