No recém-consumado 2021, a Suíça eliminou a campeã mundial, França, da Eurocopa e, arremessou a campeã europeia, Itália, para a repescagem das eliminatórias da Copa do Mundo, assegurando sua vaga direta. Sinal de que os suíços podem levantar a mais valiosa taça do futebol no fim do ano, no Catar?
Sim, podem, especialmente se estiverem afiados nas cobranças de pênaltis, já que empates são rotineiros. Mas não é essa a questão.
Apesar da justificada euforia por vivermos o ano da Copa do Mundo, ainda são precoces em demasia quaisquer previsões sobre um torneio com tantas equipes em nível semelhante e decidido em jogos únicos, suscetível ao imponderável, que pode surgir em forma de cartão amarelo ou vermelho, lesões, ou mesmo já no sorteio dos grupos e cruzamentos.
É um paradoxo sedutor. Ao mesmo tempo em que continua sendo a mais gloriosa, importante e mobilizadora competição do esporte mais popular da Terra redonda, a Copa do Mundo também é uma das mais abertas ao acaso e ao resultado pouco comprometido com a realidade. A Croácia, atual vice-campeã, jamais chegou perto de ser a segunda melhor seleção do planeta, por exemplo.
Brasil entra no ano da Copa com novas opções, como Raphinha, mas ainda algumas lacunas a preencher — Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Com exceção do anfitrião Catar, cuja maior ambição será evitar pautas sobre os abusos da mão-de-obra e do seu regime pouco simpático à democracia, as outras 12 seleções classificadas são capazes de produzir jogos equilibradíssimos sob todos os aspectos: técnico, tático, físico e mental.
O Brasil, que volta a campo no próximo dia 27 para cumprir tabela numa eliminatória cujo formato interminável perde cada vez mais o sentido, terminou 2021 com boas soluções para as buscas de Tite que já duram três anos. Raphinha, Antony e Vinicius Júnior oferecem velocidade e drible com perspectiva de gol – Vinicius ainda não marcou pela Seleção, mas a evolução de sua capacidade de finalização no Real Madrid é empolgante.
Paquetá está consolidado, Fred, finalmente, emplacou boas atuações. Falta encontrar o centroavante ideal e ter segurança na condição física de Neymar, cuja rotina está mais afetada por lesões do que certamente Tite gostaria.
Mas também há lacunas abertas nos rivais. A impressão de que os processos transcorrem nas seleções europeias sem nenhuma intercorrência é bastante equivocada.
A menos de um ano do pontapé inicial, ninguém está pronta. Nem mesmo a França, onde inegavelmente se concentra o maior número de talentos individuais. Basta citar o trio de ataque: Mbappé e Benzema, ambos entre os melhores do planeta, e Griezmann, presente nas últimas 59 (!!!) partidas da seleção. Um dado assombroso.
Esse timaço ganhou apenas um de seus quatro jogos na Euro. A campanha motivou Didier Deschamps a alterar o sistema para o 3-4-1-2. A França agora tem jogado com três zagueiros e adicionado jovens ao grupo, entre eles Jules Koundé (23 anos), justamente um dos que formam o trio, o ala Theo Hernández (24) e o volante Aurélien Tchouaméni (21).
Com um novo técnico depois de 15 anos, a Alemanha de Hansi Flick tem 100% de aproveitamento e só dois gols sofridos em sete jogos, mas contra adversários de causar conforto em quem chia falta de competitividade na América do Sul: Liechtenstein, Armênia, Romênia, Islândia e Macedônia do Norte.
Esse início promissor tem como marcas o meia Jonas Hofmann atuando como lateral-direito, a aposta forte no trio ofensivo formado por Leroy Sané, Serge Gnabry e Timo Werner, e um único titular de todas as partidas: o defensor Thilo Kehrer, do PSG, versátil a ponto de poder ser escalado em todas as funções da primeira linha – na seleção alemã, tem alternado entre a zaga e a lateral esquerda.