O quinto título gaúcho consecutivo do Grêmio veio com uma pitada de metamorfose. O Tricolor que começou lá em janeiro é bem diferente do que encerrou a vitória por 2 a 1 sobre o Ypiranga, na tarde deste sábado, na Arena. O saldo positivo da conquista sai justamente da reconstrução.
Uma nova estrutura tática, jogadores em funções distintas, jovens opções encontradas, a hegemonia histórica estadual... São pontos que ficam do pentacampeonato gaúcho antes da disputa da Série B, o principal objetivo gremista no ano.
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Partes do processo iniciaram ainda com Vagner Mancini. Mas a guinada principal veio com a chegada de Roger Machado, que conquistou seu primeiro título como técnico do Grêmio após carreira vitoriosa como atleta no clube.
– Penso que para iniciar (a Série B) chegamos sólidos. Não consigo afirmar se vai ser o suficiente até o final da competição. Mas clube grande como o Grêmio, a diretoria está fazendo esforço para agregar qualidade. Temos peças de reposição agora, leves pelos lados para refrescar a equipe – destacou o técnico.
Hegemonia e marcas históricas
A sequência de cinco títulos consecutivos não ocorria desde 1989. Portanto, há 33 anos no lado azul do estado. No Brasil, o Grêmio é o único a ganhar quatro vezes uma sequência de cinco títulos, conforme levantamento do clube.
Desde 1968 o Tricolor não engatava uma série de sete anos com pelo menos uma taça conquistada. Atual presidente, Romildo Bolzan Júnior é o segundo com mais títulos gaúchos, com cinco, atrás de Paulo Odone, com seis. São marcas relevantes para dar sustentação ao ano gremista.
– Estamos em um processo importante, em várias posições organizadas que se consolidaram. Estamos no caminho certo não só para voltar ao lugar que não deveríamos ter saído, mas estamos criando uma base sólida para ter um time vencedor lá na frente – comentou o mandatário.
Solidez tática
A troca de comissão técnica gerou um impacto direto dentro de campo. Roger testou possibilidades, mas firmou a ideia de ter uma equipe mais sólida, com um tripé no meio-campo. Isso partiu de uma série de conversas com os jogadores e seus colegas de comissão técnica. O 4-2-3-1 deu lugar a um 4-1-4-1.
Nos Gre-Nais e mesmo nas finais contra o Ypiranga, o Grêmio se resguardou e atuou em uma faixa curta de campo. Compactado, ganhou solidez defensiva e apostou na velocidade de Elias e Campaz para avançar ao ataque. Teve também aproveitamento alto em bolas paradas – os três gols marcados contra o Canarinho foram de bola parada.
– Futebol é um jogo que tem que ter a defesa sólida. Sempre mais perto de vencer. Foi importante fazer a alteração de sistema e colocar uma estrutura sólida defensiva. Me diz como defende que vou dizer como vai atacar. Há margem para evolução grande – apontou o técnico gremista.
Grêmio pentacampeão gaúcho na Arena — Foto: Lucas Uebel/Grêmio
Peças em outras posições
Depois de definir a estrutura, Roger deu um novo passo e fez alterações nas peças. Firmou, por exemplo, Villasanti como primeiro volante centralizado - o paraguaio cresceu nesta função. Lucas Silva esteve um período pouco utilizado, mas foi resgatado para ser pilar no meio-campo.
Outras duas posições foram relevantes na construção do time gremista no período com Roger. Primeiro, Rodrigues como lateral, algo que Mancini começou a fazer durante a passagem pelo Grêmio. O zagueiro adaptado participou dos dois gols do Tricolor neste sábado, por exemplo.
A colocação de Campaz na ponta direita também se mostrou um acerto para ser repetido no restante do ano. O colombiano passou a ser utilizado por Roger como um meia na ponta. Usa a velocidade e capacidade de finalização, mas também com responsabilidade de fechar o lado.
Jovens "revelados"
O jovem Bitello completou a trinca para ser o volante de mais saída do Tricolor. O técnico do time sub-21, Cesar Lopes, havia utilizado Bitello nas duas primeiras rodadas e o colocou para jogar quando assumiu na derrota para o União Frederiquense, após a saída de Mancini.
Na sequência, Roger usou o volante, chegou a tirá-lo, mas firmou-o no time titular. É uma das sensações da equipe e tem status de indiscutível para o restante do ano.
Elias também se consolidou como a alternativa mais constante no time. Foi titular, seja como centroavante, seja como ponta por conta de lesões de companheiros e encerrou o Gauchão como artilheiro do Grêmio, com cinco gols marcados.
Bitello em vitória do Grêmio na final do Gauchão — Foto: Lucas Uebel/Grêmio
Antes mesmo de Roger, o jovem Gabriel Silva também ganhou oportunidades e segue bem cotado dentro do grupo. Uma parte dos atletas formados em casa, no entanto, vai ser emprestada. Nomes como Rildo e Vini Paulista podem deixar a Arena nos próximos dias.
Tranquilidade para a Série B
Antes mesmo do título, o Grêmio já considerava um bom resultado no Gauchão uma maneira de injetar um ânimo melhor para a Série B. Deixar para trás a desconfiança e a turbulência de 2021 e conseguir construir algo em cima de um cenário de menos pressão.
O pentacampeonato foi muito valorizado por conta disso. Uma semana antes da Série B, os jogadores têm exemplo de que podem fazer coisas boas. Essa era a principal intenção da comissão técnica após a eliminação para o Mirassol na Copa do Brasil: relembrar que o grupo têm capacidade para produzir e, principalmente, vencer.