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Publicada em 04/09/22 às 08:53h - 16 visualizações
Fim do estepe: por que alternativa pode virar dor de cabeça aos motoristas
Fim do estepe: por que alternativa pode virar dor de cabeça aos motoristas

Confiança Web TV e Rádio

 (Foto: Confiança Web TV e Rádio)

Fim do estepe: por que alternativa pode virar dor de cabeça aos motoristas

Paula Gama

Colaboração para o UOL

03/09/2022 04h00

Riscar a troca de pneus da lista de inconvenientes do dia a dia parece uma dádiva. São muitas as vantagens da tecnologia run flat, que permite continuar dirigindo por até 80 km mesmo com pneu furado e dispensa o estepe no porta-malas. Mas a novidade não se adapta às características das estradas brasileiras.

Anos atrás, o pecuarista Antônio Castro passou por momentos de tensão na BA-142, uma estrada com grande movimento de carros, mas poucos estabelecimentos comerciais, no interior da Bahia. O pneu de seu carro furou durante a madrugada, próximo a uma curva, e ele teve que parar com sua família para trocar.

"Quando surgiu a tecnologia run flat, achei que nunca mais passaria sufoco. Mas os problemas eram outros: como moro no interior, não há oficinas que mudam o pneu a 80 km da minha casa. Teria que chamar o guincho e percorrer cerca de 300 km. Percebi que seria mais problemático do que continuar com o pneu tradicional."

Como funciona o run flat

Pneu Run Flat abeto em demonstração de suas camadas em uma roda da marca BMW - Foto: reprodução | Internet
Pneu Run Flat aberto em demonstração de suas camadas em uma roda da marca BMWImagem: Foto: reprodução | Internet

O engenheiro Argemiro Costa, coordenador da Comissão Técnica de Dinâmica Veicular da SAE BRASIL e doutor na área de pneus pela USP, explica que a tecnologia run flat é consolidada em diversos países do mundo, dominada por todos os fabricantes de pneus.

"Quando um pneu fura, o ar, que é o que dá sustentação à peça e ao próprio veículo, se perde. No run flat há reforços estruturais nos flancos, ombros e talões (a lateral e o aro de fixação na roda) que suportam a carga por até 80 km a uma velocidade de 80 km/h", informa.

Em um mundo ideal, a autonomia de 80 km seria o suficiente para chegar à oficina, mas a realidade no Brasil é diferente. "Na prática, para quem roda na cidade, o pneu run flat é ótimo, porque você não precisa parar de madrugada ou cancelar um compromisso porque o pneu furou. É possível adiar o reparo. Mas para quem pega a estrada é mais complicado, pois os viajantes brasileiros ainda sofrem muito com a possibilidade de perfuração dos pneus, diferente do que acontece na Europa, por exemplo", explica Argemiro Costa.

Segundo o especialista, nem mesmo nas grandes cidades encontram-se pneus de substituição com facilidade. "É um pneu mais raro porque é usado por carros de luxo. Um dos requisitos para um veículo ter run flat é ser equipado com sensor de pressão dos pneus, caso contrário, o motorista poderia não ser capaz de perceber um furo, pois ele permanece com aparência de cheio", afirma o diretor da SAE.

E há outro detalhe: a reparabilidade é diferente dos pneus tradicionais. A Michelin afirma que um pneu run flat reparado pode permanecer em uso se não tiver ultrapassado a "cota" de 80 quilômetros rodados. Já a Pirelli, que fabrica o produto no Brasil e fornece para marcas como Mercedes-Benz e BMW, diz o contrário. A recomendação é substituir o pneu independente da quilometragem rodada. Isso porque os reforços presentes no pneumático podem ser afetados devido ao peso extra enquanto rodava sem pressão.

Vantagens e desvantagens

Além da possibilidade de seguir viagem com o pneu furado, o run flat elimina a necessidade de um estepe, otimizando o espaço do porta-malas. É exatamente por essa questão que muitas marcas europeias já planejam os bagageiros dos seus veículos sem contabilizar o espaço para o pneu sobressalente, fazendo com que suas sucursais brasileiras tenham que trazer a tecnologia run flat para cá, mesmo que alguns clientes torçam o nariz.

O advogado Diogo Rodrigues teve que adaptar os pneus de seu Mercedes-Benz Classe C. "O carro veio com pneus run flat, mas no primeiro incidente percebi que eram 30% mais caros e não resolviam meu problema, pois faço audiências no interior. O pneu rasgou em um buraco, precisei chamar um guincho. Vendi os que restaram e troquei todos por pneus normais. Tive que colocar um estepe solto no porta-malas"

De acordo com o especialista Argemiro Costa, é possível adaptar as rodas preparadas para pneus run flat para os equipamentos normais, mas o contrário não é viável.

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