Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2025

Buscar  
Converse conosco pelo Whatsapp!

Sertanejo classe A com Sertanejo Classe A
Publicidade Lateral










Top Música
1
Escreve Aí
Luan Santana  
2
Fiquei Sabendo
Avioes do Forró  
3
Nocaute
Jorge e Mateus  
4
Só o amor
Daniel  
5
Deixa ela saber
Henrique e Juliano  
6
Vinheta Radio web confiança coma voz Silvio Santos
Silvio Santos  
7
Termina comigo Antes
Gustavo lima  
8
Vinheta oficial da Copa do Mubdo 2022
Copa do Mundo  
9
- Leão - Decretos Reais 2
Marília Mendonça - Leão - Decretos Reais 2  
10
Passe Livre
Trio Parada Dura  
11
Na Hora H
Léo Magalhães  
12
O QUE QUE EU SOU SEM VOCÊ
Fabio e Wander  
13
Dois Pra la Dois Pra cá
VONIMHO  
14
ERRO GOSTOSO
Simone Mendes  
15
Chicão dos Teclados
A Maior Saudade  
16
Soró Silva
Batom de Cereja  

 
Hora Certa

Gata do Site
Virgínia Aguiar Wanderley
22 anos
Notícias Atualizadas

https://www.confiancawebradioetv.site
Publicada em 17/09/22 às 08:11h - 22 visualizações
Walter abre o coração: atacante revela dramas, sonhos e \"sufoco financeiro\" se parar de jogar
Walter abre o coração: atacante revela dramas, sonhos e \"sufoco financeiro\" se parar de jogar

Confiança Web TV e Rádio

 (Foto: Confiança Web TV e Rádio)

Por Diego Ribeiro e Guilherme Gonçalves — Goiânia

 


O início meteórico de carreira, com direito a jogos de Liga dos Campeões da Europa, é hoje uma lembrança distante na memória. Aos 33 anos, Walter Henrique da Silva se contenta em ter um clube para jogar, um salário a receber e, novamente, objetivos a cumprir numa carreira de (muitos) dramas e alguns sonhos cumpridos no futebol.

A meta, porém, não é apenas profissional. Formado no Internacional e com passagens por clubes como Porto, Cruzeiro, Fluminense, Goiás e Athletico-PR, Walter também joga para equacionar suas contas, até pouco tempo atrás combalidas por causa de escolhas erradas, inocência, dois anos de suspensão por doping e muito dinheiro perdido – tudo isso às voltas com problemas de peso.

Em resumo, Walter joga porque precisa jogar. É seu emprego e único ganha-pão.

Reproduzir vídeo
00:00/11:31

Walter revela como foi ficar afastado do futebol e os problemas com peso

– Fiquei cinco meses parado, pensando na vida, mas voltei porque penso em jogar uma Série B, uma Série C, quem sabe uma Série A ainda. Tenho qualidade, tenho condição para estar lá – avisou.

– Se eu parar hoje, é um sufoco para mim, sim, não tem isso de dois, três, quatro anos tranquilo, não – explicou.

Entre dramas pessoais como um acidente da mãe, dona Edith, no começo deste ano, o desaparecimento do pai, José Amaro, no início de 2018, dois casamentos encerrados, com Vanessa e Inglid, pensões devidas e a distância da filha, Catarina Vitória (que mora em Porto Alegre) ele tenta se estabilizar para, enfim, poder pensar nos próximos passos – entre eles, ser técnico de futebol.

Em campo, os problemas com o peso que marcaram sua trajetória continuam: ele chegou ao Goiânia com cerca de 115 quilos, mas já conseguiu perder parte disso. Sozinho na cidade, faz trabalhos à parte, fora de horários de treino, para acelerar a retomada. Pelo clube da capital, foram quatro jogos até agora, sem gols marcados pelo Goiânia, vice-líder da Segunda Divisão.

Tudo isso, porém, Walter costuma minimizar com uma frase, repetida quase dez vezes em cerca de uma hora de conversa com a reportagem do ge, numa tarde ensolarada e "abafada" típica da capital goiana, num modesto centro de treinamento, com campos de grama alta e uma acanhada sala de imprensa.

– Para quem vem de onde eu vim, isso aqui não é nada.

Walter vem do Coque, comunidade violenta da área central do Recife e que, em 2020, teve registrado o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre todos os bairros do município; 57% dos moradores viviam com renda mensal entre R$ 130 e R$ 260.

Walter, do Goiânia, conversa com a reportagem do ge — Foto: Diego Ribeiro

Walter, do Goiânia, conversa com a reportagem do ge — Foto: Diego Ribeiro

Veja abaixo a entrevista com Walter:

ge: Walter, como você está hoje? Se sente bem para jogar? Já está em seu terceiro time na temporada (começou o ano no Santa Cruz, foi para o Amazonas e agora o Goiânia)...

Walter: É um momento muito feliz da minha vida, passei um momento muito triste saindo do Santa Cruz, passando pelo Amazonas, saindo de lá passei uns quatro, cinco meses sem jogar, pensando o que ia fazer da vida, se ia voltar a jogar esse ano, ano que vem, até que chegou nosso presidente (do Goiânia) e disse para ajudá-lo. Temos uma parceria de oito anos, é muito meu amigo, conversei com ele e pedi só um mês para recuperar o joelho e sentir o que quero da minha vida. As portas do Goiânia ficaram abertas para mim. Treinei, fiquei um mês tratando o joelho e depois acertamos contrato até fim do ano, podendo renovar se o time subir. Para mim é muito bom, Goiânia é um lugar que eu amo, onde me sinto em casa.

– Onde eu me sinto bem e feliz, as coisas acontecem. Não estou ainda 100%, estou 65%, 70%, fiquei cinco meses pensando no que ia fazer, perdi muito tempo na minha vida. Mas estou muito feliz, recuperando pouco a pouco e sentindo o gostinho de jogar futebol.

Como foram esses cinco meses de "reclusão"?

– Foi difícil, porque eu tinha me machucado no Amazonas e pensei em não jogar esse ano. Pensei muito bem, passaram algumas coisas na minha cabeça. Tive algumas coisas para a Série D, mas preferi ter calma e esperar o momento. O que eu fiz? Dei meu tempo, quatro, cinco meses em casa, e estou muito feliz para terminar esse resto de campeonato. Aí, ano que vem, penso em jogar uma Série B, uma Série C, quem sabe uma Série A ainda. Tenho qualidade, tenho condição para estar lá, por isso vim aqui para o Goiânia treinar e me recuperar.

Em algum momento você pensou em parar de vez com o futebol?

– Na minha vida, só sei jogar futebol e só fazer isso. Pensei em mil coisas. Não pensei em parar, mas pensei em dar uma segurada esse ano, ficar quieto na minha, pensando, igual eu fiz. Eu pensei, vi que eu tinha muita coisa para acontecer esse ano, ia ficar muito tempo sem jogar, e o jogador precisa estar jogando, aparecendo. Com você em casa, poucas coisas aparecem. Estou sentindo aquele gostinho de novo, estava muito triste nestes cinco meses, não queria saber de bola, aconteceram algumas coisas em casa, na minha vida, e fiquei muito abalado.

– Fiz escolhas erradas também, ir para o Amazonas foi uma escolha errada, estava bem no Santa Cruz, junto com minha família, num clube gigante, e me arrependi. Meu coração doeu. Mas por que saí? Veio uma proposta muito boa de valores, dinheiro, eu com 32, 33 anos, tinha que aproveitar esse momento. Só que o dinheiro é muito bom, mas não traz a felicidade, e faltou isso. Eu, que sou um cara alegre, não estava feliz. E faltou isso, minha felicidade. Isso pesou muito.

Walter em ação pelo Amazonas: lá, ele não estava feliz — Foto: Antônio Assis/FAF

Walter em ação pelo Amazonas: lá, ele não estava feliz — Foto: Antônio Assis/FAF

E o que te fez voltar, então?

– Minha filha, que me cobrava todos os dias, e as pessoas me acompanhando no Instagram pedindo para eu voltar a jogar. Gosto muito de estar lá, é uma coisa minha, e muita gente me perguntava por que eu não estava jogando. Então esse incentivo me ajudou. Meu foco é ajudar minha mãe, minha filha, e por isso deu vontade de voltar a jogar. Em casa é só gasto, dinheiro só sai e não entra. Importante é eu estar feliz comigo mesmo e meus amigos mais próximos.

Então, além da filha, sua mãe é uma figura que te faz seguir em frente, certo? Como é sua relação com ela hoje?

– Estar longe da minha mãe sempre foi muito difícil na minha vida, porque ela é minha mãe e meu pai. Ela teve um acidente, teve de fazer uma cirurgia, e eu estava no Recife, no Santa Cruz, e ficou mais fácil para ajudar. Ela está recuperando, estamos longe hoje, espero trazer ela para ficar em Goiânia um tempo comigo, sentir esse carinho é muito importante, ela é meu pilar. Correu atrás de tudo, dinheiro emprestado, comprou chuteira, roupa para mim. Ela é minha mãe e meu pai, o pai que eu não tive. Por isso agora penso duas vezes antes de fazer as coisas, eu ralo, trabalho, nunca neguei que tenho um problema muito sério com o peso, que me atrapalhou muito, mas também não sei se teria chegado onde eu cheguei. De qualquer forma, sou muito grato à minha mãe pelo que fez por mim.

Esse acidente com ela também contribuiu com essa reclusão? O que aconteceu?

– Agradeço muito ao médico do Santa Cruz que ajudou, fez a cirurgia o mais rápido possível, tinha esse "trem" do Covid ainda, fiquei com muito medo de ela ir para o hospital, mas deu tudo certo, ela ainda não está 100% caminhando, está na cadeira de rodas, com algumas coisas, mas está bem melhor. É uma dor muito grande, mas graças a Deus ela está bem e não vejo a hora de trazê-la para cá e cuidar dela. Minha mãe já tinha um problema no joelho, e tinha aquele "trem" de água, e a água da bomba tinha caído no chão, ela não viu a água no chão e escorregou, machucou o joelho e teve de fazer uma cirurgia.

Reproduzir vídeo
00:00/01:56

Walter faz primeiro gol pelo Santa Cruz e se emociona: "O Santa Cruz tá me trazendo uma alegria muito grande"

E sua filha, então, é o outro pilar...

– Minha filha foi escolhida por Deus, ela nasceu com seis meses, nem isso, lá em Portugal. Ela era muito pequenininha, a mãe dela (Vanessa) também é uma guerreira, ficou quase dois meses deitada na cama, não podia fazer nada, só repouso total, para a mãe é muito difícil, para mim também. Eu saía para treinar e voltava preocupado, a Catarina é tudo para mim, podia nem estar aqui, mas sei o quanto ela lutou para sobreviver. Quando fui ver ela estava com um monte de coisas no nariz, três meses internada para ganhar peso, ganhar vida de novo, por isso a Catarina é minha felicidade. Catarina Vitória, porque é uma vitória para a gente, para mim e a mãe dela, é a nossa vida.

Quantos anos ela tem hoje?

– Está com 12.

Então ela já te acompanha e entende bem, não?

– A gente conviveu quase seis anos, o tempo que eu fiquei com a mãe dela, ela foi comigo para Porto, Cruzeiro, Fluminense, Athletico, ela sempre ia com a mãe dela para os jogos, e hoje ela sempre torce por mim e fala para os amiguinhos que o pai jogou no Inter, lá no Sul o povo é apaixonado, lá eu sou conhecido, comecei minha base lá, atuei muito bem lá também, e ela fica toda feliz dizendo quem é o pai dela. Perguntam para ela quando eu vou jogar, e ela me cobra.

Hoje ela mora em Porto Alegre, certo? Tem conseguido ver a Catarina com frequência?

– Mora em Porto Alegre. Quando eu saí do Amazonas, fiquei esse tempo sem jogar e aí podia viajar. Viajei, passeei com ela, fiquei cinco dias com ela, coisas que eu não tinha feito ainda, só com trabalho, isso aquilo. Os últimos dois, três anos foram muito corridos, um campeonato emendando no outro, saí do Athletico, fui para o Vitória, Botafogo-SP, uma loucura, não tive tempo de visitar. Hoje vai fazer uns três, quatro meses que não a vejo, que foi quando fiquei um mês em casa. Depois voltei a treinar e ficou mais complicado.

Walter com a filha, Catarina Vitória, que mora em Porto Alegre — Foto: Reprodução/Instagram

Walter com a filha, Catarina Vitória, que mora em Porto Alegre — Foto: Reprodução/Instagram

Você já passou por muito time grande. Mas com dois anos de doping (entre 2018 e 2020), um bom tempo parado, não deve ser um bom negócio financeiramente. Como você está hoje? Ainda joga por que precisa de dinheiro?

– Sobre isso, sem dúvida, eu fiquei dois anos sem jogar, dinheiro só saiu nesses dois anos. Suspenso você não recebe, não pode trabalhar no futebol, e foi só gasto, e me separei duas vezes, só gasto, 50% indo embora. Perdi, sim, dinheiro, mas ainda tenho algumas coisas que podem me ajudar. Se eu te falar que posso parar de jogar e ficar de boa, não. Por tudo que eu perdi. Por isso estou tentando recuperar o que eu perdi, por isso não pensei duas vezes em ir para o Amazonas, aquele dinheiro já me ajudou muito e vai ajudar no futuro. Foi um dinheiro bom, um salário bacana, por isso não neguei e fui. Eu chutei um valor, achei que esse cara não fosse pagar, e ele falou "Pago!". Tá doido! Se eu parar hoje, é um sufoco para mim sim, não tem isso de dois, três, quatro anos tranquilo não, precisa ver ainda o que posso fazer...

– Hoje estou com a cabeça que tenho mais dois, três anos para parar, mas você vai fazendo as coisas, e o doping foi do nada, dois anos sem jogar futebol, foi um baque, assim, muito grande na minha vida. Tipo assim, é pensão que eu tenho que pagar, tem que ser certinho, não pode falhar, é pensão da minha mãe, ajudo minha mãe, minha família, as coisas não pararam, só saíram. Teve momentos de sufoco muito grande, mas apareceram outras coisas. Minha sorte é que eu tinha um contrato com o Porto ainda, coisas em Portugal. Tive que vender algumas coisas para pagar minhas contas, meus compromissos, e está tudo bem.

E, além do doping, o que mais te fez perder dinheiro?

– É igual eu falo para os meninos, você ganha 20 mil e não vai gastar 10, vai gastar 24. Poucos sabem gastar. Jogador de futebol, a maioria ganha 20 e gasta 30. 70% dos jogadores são assim, aí quando veio uma porrada como a que levei, aí sim, penso três vezes. Agora aconteceu de eu ficar cinco meses parado, não sofri. Muito jogador quando para passa um sufoco muito grande porque não tem a cabeça. Aprendi uma coisa: quando você está jogando pode ter um carro bacana, quando você para tem que baixar um pouquinho seu nível. Se você não for simples, vai passar sufoco. Na hora e no momento certo, comprar um carrinho mais ou menos, porque não vou receber o mesmo valor que recebia antes.

– E hoje é gasto demais, hoje no meu carro eu gasto quase R$ 1.500 de gasolina, chutando por baixo, por dia, semana, dá 250, 300 reais, se fizer as contas aí... É muito difícil. Na minha vida sou simples demais, não sou orgulhoso, jamais fui assim, sempre fui simples.

Walter, do Goiânia, conversa com a reportagem do ge — Foto: Diego Ribeiro

Walter, do Goiânia, conversa com a reportagem do ge — Foto: Diego Ribeiro

Você foi esse jogador que gastava mais do que ganhava?

– Eu não gastava muito, quem gastava era a mulher, quem tem esposa pode ter certeza. O homem vai ao shopping e gasta 300, 500 reais, é muito. E a mulher vai gastar 4 mil assim, ó... Aí estoura o cartão de crédito. E para pagar é uma bola de neve. É muito difícil a gente ir a um lugar e comprar muita coisa, mas a mulher, se deixar é todo dia, um gasto muito grande, penso que foi mais isso. Sem dúvida eu gastava muito mais do que recebia.

Todo mundo fala que você não é orgulhoso, não tem ostentação, e ainda assim perdeu dinheiro depois de passagens pelo Porto e grandes clubes do Brasil... Mesmo assim, sobe à cabeça uma ascensão tão rápida? Mexe com o seu emocional?

– Mexe, não tem como, mas eu não ganhei dinheiro no Porto, vim ganhar dinheiro quando voltei do Porto para o Brasil. Eu recebia R$ 15 mil no Inter, aí fui para o Porto e recebi o equivalente a R$ 45 mil, muito bom, mas voltei para o Cruzeiro ganhando R$ 95 mil, olha a diferença, e no Goiás continuei ganhando 95. Aí comecei a ganhar dinheiro, aí beleza, e querendo ou não você vai tendo destaque, sobe um pouquinho à cabeça, não tem como.

– Eu não tinha nada, vim de uma favela, do nada fui para o Inter, do nada para o Porto, grandes jogadores passaram por lá. De vez em quando não cai minha ficha. A gente tem um grupo no Instagram, jogaram comigo Hulk, Falcao García, James, Álvaro Pereira, Fucile, João Moutinho, meu treinador foi o André Villas Boas. Eu joguei com esses caras, fui campeão da Liga Europa, não passa pela minha cabeça. Aí eu mostro pros meninos e eles ficam bestas, e eu também fico besta. Olha os caras que conversam comigo!

Walter abraça James Rodríguez e João Moutinho em gol do Porto — Foto: Agência EFE

Walter abraça James Rodríguez e João Moutinho em gol do Porto — Foto: Agência EFE

– Mas nunca subiu à minha cabeça. É que eu não sabia quanto era a gasolina, sabia nada, e só comprava os "trem". Hoje eu pergunto, vejo as coisas mais baratas. Quero comprar as coisas boas porque a gente trabalha para ter aquilo, gosto de morar bem. A gente tem de morar bem, dormir bem, ter uma cama boa para descansar, isso sim, mas nada de “ah, sou Fulano, tenho isso, tenho aquilo”, porque vim do nada e continuo não tendo nada. A gente vai embora e deixa tudo para os outros.

Você acha que perdeu muito dinheiro também por causa da sua ingenuidade?

– Eu não tinha ninguém por trás, fui sozinho, se eu tivesse uma pessoa que me ajudasse a investir nisso aqui, nisso ali... Agora que estou investindo em gado, que eu nem sabia. Se eu soubesse lá atrás, já tinha quatro fazendas aqui em Goiânia, fácil! Hoje, depois de 33 anos, que estou conseguindo as coisas aqui em Goiânia, os "trem" dá dinheiro, estou começando a trabalhar com isso. Eu podia fazer isso lá atrás, três, quatro fazendas, porque eu ganhava bem e os valores eram muito mais baratos do que hoje.

– Mas a gente aprende, nunca é tarde para aprender, e hoje meu investimento é isso. O meu pensamento é jogar três anos, não sei o que vou conseguir jogar em três anos, não sei se o corpo deixa, sofro com o peso, se eu não sofresse, putz, ia embora. Mas tenho a consciência de três anos, fiz o projeto dois anos atrás de jogar cinco, então tenho mais três. Já estudando, quero ser um treinador, ter um bom estudo, vou começar quase do zero. Nunca é tarde para a gente aprender, uma coisa que eu quero é ser treinador. A gente já pegou experiência com muitos, tem um mercado muito bom.

Falando sobre o que mais te fez perder dinheiro... Você ficou um ano suspenso por doping quando jogava no CSA, mas, no dia de voltar, houve um novo julgamento que aumentou sua punição por mais um ano. Foi o seu pior momento?

– Foi, essa foi a porrada, porque me preparei para um ano. E o seu Hailé (Pinheiro, ex-presidente do Goiás), sou muito grato a ele, chegou e me deu um ano de contrato, no susto. Ele falou que ia me dar um ano, muita gente ficou com o pé atrás, e ele bateu, treinei, comecei a emagrecer, aí faltando um dia teve o julgamento. Foi o pior dia da minha vida, foi em Brasília, eu e minha ex-esposa. A gente estava dentro do carro, depois do resultado, horrível, e ligamos para o seu Hailé.

– E nós três chorando, chorando, chorando, foi uma das piores viagens da minha vida, duas horas que duraram quase cinco. Parando e chorando com o Hailé, ele dizendo que ia me ajudar, e ajudou, ajudou muito. O Goiás pagou o negócio lá na Suíça, quase R$ 250 mil, e não deu certo, perdi lá também. Foi alguma coisa, não fiz mal para ninguém, mas meu doping foi muito estranho.

O doping foi por conta de traços de furosemida e metabólicos de sibutramina, encontrados em remédios para emagrecer. Foi a primeira vez que você tinha recorrido a esse tipo de medicamento?

– Eu sempre tive problema de peso, mas nunca tomei remédio para emagrecer, dessa vez tomei porque um médico, que não vou falar o nome, liberou, tem as mensagens. E remédio não ajuda em nada, só atrapalha. E eles sabem disso, eu só tinha jogado em time de nível grande, e eles davam risada na hora da votação. Pessoas que votaram em um mês a meu favor, depois mudaram contra. Não existe, não tem como tomar dois anos. Tem o exemplo do Guerrero aí (ex-Corinthians, Flamengo e Inter, hoje no Avaí), nada contra, mas foi pego com outras coisas, ficou seis, sete meses, nem sei. E aí eu peguei dois anos com remédio para emagrecer, que só atrapalha, não ajuda nada. Aí teve um rolo, tenho até pavor de lembrar, foi um dos piores momentos da minha vida.

Walter ficou suspenso por um ano; depois, porém, levou mais um ano de gancho — Foto: Divulgação

Walter ficou suspenso por um ano; depois, porém, levou mais um ano de gancho — Foto: Divulgação

E como esse remédio chegou até você? Por que você tomou?

– O remédio chegou em mim por uma mulher que disse que ia me mandar, pelo Instagram, mas eu não tomo nada, só quando o médico libera. Mandei uma mensagem para o médico, tirei a foto e ele disse: "Pode tomar". Fui tomando. Contra o Brasil de Pelotas, em 2018, caí no doping, e você é 100% culpado. Quem sabe esse médico pague lá na frente. Foi um dos momentos mais difíceis. Uma foi em 2009, quando perdi o Mundial Sub-20 pela Seleção, machuquei o joelho e perdi um contrato. E a segunda sem dúvida o doping, em 2018.

O que você fez nesse primeiro ano de doping, mais "previsível", e depois da porrada?

– No primeiro ano, o que fiz? Fui jogar amador, viajei esse mundo todo e pagavam bem, davam hotel, essas coisas. Eu me imaginava jogando mesmo, pagavam tudo. Tem um time chamado Capelinha, Capivari, quase profissional, estádio lotado, paga bem. Eles me pagavam R$ 7 mil, 8 mil, 6 mil por jogo. Um jogo! Aí hotel, o rapaz ia buscar a gente, carro bom, eu me imaginava jogando num time profissional. Aí tive que parar lá para voltar a treinar, dois meses antes de vencer a suspensão, aí fiquei treinando no Goiás.

– Quando seria a minha volta, apresentação, um amistoso contra time do Uruguai (Racing-URU), na Serrinha. E aí veio o julgamento, o jogo era no sábado e o julgamento era sexta. A gente foi, perdeu... Foi uma porrada, assim, que fiquei três meses sem ver jogo, não queria ver jogo, queria largar o futebol, muita covardia, muita trairagem. Então fiz um time para mim, a família W18, que eu falo que me ajudou e ainda ajudou as pessoas. Começamos a fazer jogos duas vezes por semana, o Walter jogando em vários lugares, em Goiânia meu nome é muito forte, a torcida ia, eu levava umas camisas do Goiás para fazer sorteio. Aí fui começando a gostar do futebol de novo. Foi aí que me deu força para voltar. Quando faltaram dois meses para voltar, Deus me levou para o Athletico-PR.

Foram três meses entre a segunda suspensão e você ter vontade de jogar futebol novamente, então? Pensou mesmo em desistir?

– Pensei, não quero! Não conseguia ver jogo, falei para minha esposa que não tinha mais condição, por isso falo que sou muito grato a ela. No pior momento da minha vida, ela estava ao lado, dando força, se não fosse ela pode esquecer. Não sei o que podia acontecer comigo. Graças a Deus não engordei muito, me cuidei, ficar parado dois anos é difícil. Agora dei uma relaxada de cinco meses e engordei mais do que em dois anos. Não queria ver nada, ela me deu força, fiz um time para mim, com meus amigos, e aí entraram os amigos de verdade. E estão até hoje comigo.

Walter, visivelmente mais magro, em ação pelo Athletico — Foto: Athletico

Walter, visivelmente mais magro, em ação pelo Athletico — Foto: Athletico

E na reta final da suspensão por doping, vem a proposta de um time de Série A, o Athletico. Como você reagiu?

– Eu tomei um susto! Eu tinha uma conversa com o seu Hailé, porque em 2019 eu ia para o Goiás, não deu certo por causa do doping, aí na metade de 2020 veio a pandemia. O seu Hailé foi para a fazenda dele e eu não o achava, eu mesmo peguei o celular e liguei para o Mário (Celso Petraglia). Pedi uma chance, só queria jogar, voltar, e ele mandou o Paulo André (ex-zagueiro, então dirigente do Athletico) me ligar. Quando ele falou isso, meti o joelho no chão, comecei a chorar, falei para minha ex-esposa e ela não acreditou. Dois dias depois o Paulo André me ligou... Dois anos depois, voltar para um time grande!

– Joguei oitavas de Libertadores, fiz gol, oitavas de Copa do Brasil contra o Flamengo. Para mim foi tudo. A pena é que eu podia ser muito melhor se a torcida estivesse no estádio. O seu Mário sabia da minha qualidade, mas viu uma votação no Globo Esporte. Quase 80% disseram "sim" para mim, e aquilo ajuda... Porque a torcida queria também. Fui com contrato de risco, bati todas as metas e renovei por mais seis meses. Para mim foi muito bom, triste porque não peguei a torcida. O Paulo Autuori demorou a ter vindo também, aí que comecei a jogar. Foi um recomeço.

Hoje, num clube com estrutura menor, como fica para bater o peso?

– É difícil, é difícil. Se hoje eu estou num Goiás, num Athletico, é totalmente diferente, com estrutura muito forte, pessoas por trás, tudo. A gente tenta, mas é muito mais difícil. Você quer, mas não tem aquela cobrança, e lá não, tem uma cobrança. Por isso quero chegar bem, um projeto para o Walter, porque tenho certeza de que consigo fazer esse projeto. No Goiânia é muito mais complicado. Onde eu fiz essas coisas, Fluminense, Athletico, deu tudo certo.

Como você lida com essa questão do peso hoje? Sempre se falou disso, mas em algum momento te magoou? Incomodou?

– A gente fica triste, não tem como, mas eu falei que isso não pode me abalar. Eu passei coisas difíceis na minha favela, na minha comunidade, no Coque, isso aqui para mim não é nada. Quando eu faço os gols, as jogadas, os repórteres não acreditam. Eu não tenho como explicar. "Como o Walter está com esse peso e consegue correr o campo todo?". Eu tenho 84 quilos de massa magra, se põe um cara gordo no jogo, ele não consegue jogar. Eu sou acima do peso dos outros jogadores? Sem dúvida. Por isso meu peso sempre foi diferente dos outros que jogam, o meu foi sempre maior, sou um cara diferente. Mesmo acima do peso, fui o melhor jogador do Brasileiro, Bola de Prata, 29 gols no ano, joguei mais de 55 jogos no ano sem me machucar. Quando eu me machucava, recuperava rápido.

– Em alguns momentos dói, doía, já fiquei no quarto chorando, com minha mãe, minha família, mas não podia desistir. Eu ficava feliz quando as pessoas me xingavam e depois falavam "vem para meu time, Walter".

Você chegou a jogar com quantos quilos?

– 110, 110, lá no Goiás em 2012, final de 2012 e 2013, sempre foi 107. Eu jogava com 107, 108, aí acaba o jogo e eu perdia uns três, quatro quilos. Às vezes eu apostava com o Enderson Moreira (técnico, hoje no Bahia) quem perdia mais peso. Eu estava com 107, aí pesava na sexta e caía três quilos, aí ele me pagava. Era uma aposta.

Você se acha uma vítima de gordofobia? As pessoas poderiam evitar comentários do tipo sobre você?

– Isso que me doía muito, quando me chamavam de "gordinho" Walter, o gordo Walter. Tem vez que é com carinho, mas tem vez que é na maldade. Isso também me doía muito. Mas minha felicidade é ver as pessoas que sofrem com peso falarem que vão jogar futebol porque o Walter está jogando. O Walter é gordinho, vou jogar também. Muitas crianças e pessoas jogando. Não é um espelho bacana no meu trabalho, sei disso, mas também muitos voltam a brincar, jogar, por isso. Criança, às vezes, fala coisa que machuca. O gordinho, etc, isso aí machuca. E muita gente me mandou mensagem dizendo que só joga porque estou jogando, isso me dá muita força.

Walter em ação pelo Goiás; em 2012, chegou a jogar com 110 quilos — Foto: Fernando Ribeiro / Ag. Estado

Walter em ação pelo Goiás; em 2012, chegou a jogar com 110 quilos — Foto: Fernando Ribeiro / Ag. Estado

Em vários momentos da entrevista você fala que "isso não é nada", porque de onde você veio era muito mais complicado. De onde vem essa casca?

– Já vi meu irmão morrendo na minha frente, eu com oito anos, uma sensação horrível. Aquilo não sai da minha imagem, não tem como sair, eu penso que meu irmão tinha 18 anos na época.

– Fora outras coisas que já vi dos meus amigos, roubo, tiroteio na minha frente, minha mãe vendendo perfume e carregando caixas na cabeça, correndo risco de vida. Por tudo que eu já passei na minha vida, isso de hoje não é nada. Você perder um irmão, não poder fazer nada, é muito triste. Por isso o resto a gente tira de letra. Dói? Dói! Muita gente fala muitas coisas? Fala! Não sabem que tem uma família, um homem por trás. Isso que me dá força todos os dias. Eu fui para o Vitória com 12, 13 anos, aí eu voltei com saudade da minha mãe, e aí não tinha uma comida para eu comer. E eu falei que não ia voltar enquanto não desse uma casa para ela. Voltei lá só com 17 anos, quando renovei com o Inter, e falei "agora sim, comprei sua casa". Isso é minha alegria, ter comprado a casa da minha mãe.

Você diz que ela foi sua mãe e seu pai. Ela é a figura mais presente na sua vida? Foi quem segurou a barra?

– Minha mãe foi tudo para mim, meu pai separou muito cedo, eu era muito novo, tinha três, quatro anos, e minha mãe segurou a barra demais. Meu sonho era meu pai me levar ao treino, o sonho de um garoto é ver o pai no treino, e minha mãe que me levava, comprava chuteira, roupa de treino, era ela que arrumava dinheiro emprestado, virava a noite no bar para trazer dinheiro para casa, comprar comida, ela que saía 7h e voltava só no outro dia, quase 24 horas trabalhando para trazer comida. E eu sozinho com minha avó, meus irmãos, sem comer nada. Minha mãe é tudo para mim. Primeiro Deus, segundo minha mãe. Fui casado duas vezes, e sempre falei para minhas esposas para gostarem da minha mãe. Eu errado ou certo, ela vai estar junto comigo. Mãe é só uma.

Você perdeu contato com seu pai?

– Perdemos contato, depois mais velho comecei a trazer ele para perto de mim, viajei, trouxe ele para meu casamento, mas vai fazer quatro anos que meu pai está sumido. Trouxe ele em 2017 para meu casamento, ele voltou para o Recife e não apareceu mais. Sumiu. Não sei se morreu, está internado, ele já tinha problema de vista, bebia, fumava, estava esquecendo das coisas... Fui ao Recife tentar achar meu pai, fiz três exames para ver se podia ser meu pai, graças a Deus não foi. E não tenho notícia do meu pai. E me dói muito! A gente era muito afastado, mas de uns tempos para cá ficamos muito próximos. Mandava minha mãe cuidar dele, porque bebia muito. Quando ia trazê-lo de novo, ele sumiu, e até hoje não apareceu.

Até hoje não há qualquer pista do paradeiro dele?

– Não temos nenhuma pista. Falo com o delegado direto, fiz três exames de DNA, não sei se é melhor achar, acabar com isso, ou achar lá na frente. É uma coisa muito chata isso. Eu tenho esperança de ele estar vivo, todos dias eu oro e sinto isso. Que ele esqueceu a memória, está em alguma casa de doente, tenho alguma esperança ainda. O delegado está em cima, vou para o Recife reforçar. Para dar aquela acalmada no meu coração. É ruim, você não sabe o que aconteceu, dói para caramba, todos os dias. Se fosse outra coisa, acabava. Mas vai fazer quase cinco anos já, acha, não acha, minha mãe fica mal, eu fico mal, meus irmãos...

José Amaro Ferreira e Walter no segundo casamento do atacante, em 2017 — Foto: Arquivo Pessoal

José Amaro Ferreira e Walter no segundo casamento do atacante, em 2017 — Foto: Arquivo Pessoal

Que sonhos o Walter ainda tem para realizar como jogador de futebol?

– Meu sonho é vestir uma camisa de Série A de novo, um sonho de vestir mais uma vez a camisa do Goiás. Deixando o Goiânia na Série A, meu coração estaria calmo para seguir outros caminhos. Vestir a camisa do Goiás, colocar o Goiânia na Série A e voltar a uma Série A, Série B de novo, campeonato de verdade, estar na TV de novo, meu sonho hoje é esse.

E os sonhos do Walter fora de campo?

– Ser esse cara que eu sou, continuar essa pessoa humilde, que todo mundo gosta, ajudar as pessoas que gosto. As coisas mais importantes já consegui, que era a casa da minha mãe. Eu preciso estar bem comigo, penso que hoje estou bem, não tem coisa melhor do que isso. Hoje estou bem, sou muito grato a Deus por isso.

Hoje você se sente bem e motivado, então?

– Hoje eu estou 100% bem, pode vir coisas boas, mas não é assim, vem coisas ruins também, tem de matar no peito e sair jogando. Todos os dias precisa acordar vivo, bem, tem tanta gente querendo emprego e não tem, tanta gente em cima de uma cama, sem poder andar, e a gente aqui bem, com saúde, isso é o mais importante.

Você falou também do desejo de ser técnico. Como você acha que pode agregar? Com quem aprendeu mais?

– Eu gostei muito do Paulo Autuori e do Enderson Moreira, são dois treinadores com quem trabalhei mais tempo, vou guardar para o resto da vida. Ainda não comecei a estudar 100%, sem dúvida vou pegar um pouquinho de cada, mas esses dois vão ser minhas referências. E olha, vou ser um baita de um treinador, vocês vão ver!

Walter, do Goiânia, conversa com a reportagem do ge — Foto: Diego Ribeiro

Dá para fazer amigos no futebol? Com quem você tem contato ainda?

– Poucos, né? Você sai de um lugar, tem uma amizade aqui, aí sai, fica longe, perde contato... É no momento. Aí você leva um, dois ou três para sua vida. É complicado ter uma amizade verdadeira. Eu converso muito com o Weverton, do Palmeiras, e com o Hulk. Poucas pessoas, sou na minha também, não sou de ficar mandando mensagem, essas coisas. Mas troco mensagens com esses dois, grandes amigos meus, jogamos juntos bastante tempo, um no Athletico, outro no Porto.

– O Hulk é um irmão para mim, ajudou minha filha em Portugal, ele que levou minha ex-esposa e minha filha para o hospital, sou muito grato a ele. Ficamos muito próximos.

Falando nisso, como é a relação com suas ex-esposas hoje?

– Tenho relação, a primeira sou muito grato pelo tratamento que deu para minha filha, tudo que passou, foi uma guerreira. E a segunda esteve ao meu lado no momento mais difícil, ficaram aquelas pessoas com quem a gente não contava. Sou muito grato a ela, é minha parceira, sempre foi, e por isso que se ela precisar de qualquer coisa, estou aqui para ajudar. Ela pode me ajudar – por isso falo que sou muito grato a ela, cada uma tem um momento especial na minha vida. Mas hoje eu tô na pista pra negócio, solteiro (risos).

Veja também




ATENÇÃO:Os comentários postados abaixo representam a opinião do leitor e não necessariamente do nosso site. Toda responsabilidade das mensagens é do autor da postagem.

Deixe seu comentário!

Nome
Email
Comentário
0 / 500 caracteres


Insira os caracteres no campo abaixo:









https://www.confiancawebradioetv.site/
Copyright (c) 2025 - Confiança Web TV e Rádio - Todos os direitos reservados