Acostumados a sugerir produtos nas redes sociais, nas suas famosas "publis", os influenciadores digitais ampliaram seus nichos de indicações este ano. Em meio a uma eleição presidencial polarizada, muitos resolveram declarar o voto e amplificar, em menor ou maior grau, a campanha de um dos candidatos ao posto mais importante do país. E o EXTRA traz, abaixo, análises do impacto virtual do posicionamento político exposto por 15 famosos. Entre eles, Felipe Neto, Gil do Vigor, Emily Garcia, Paula Sperling, a cantora Anitta e o jogador de futebol Neymar.
Embora o que mais se ouça é que declarar o voto numa eleição pode ser prejudicial aos números das redes sociais, as análises de especialistas revelam que o cenário é mais complexo do que isso. As recomendações, feitas espontânea e gratuitamente, tiveram efeitos diversos este ano.
Para alguns perfis menores, a declaração de voto foi mesmo um holofote, possibilitando aumentar o número de seguidores. Já os grandes perfis — que costumam ter na sua base de seguidores pessoas de todos os lados políticos —, na maioria dos casos, tiveram queda no número de seguidores instantaneamente. Mas as marcas anteriores puderam ser recuperadas. Em outros casos, sequer houve variação de seguidores fora da média.
— Este ano, principalmente, por conta da polarização, algumas audiências já estavam alinhadas a discursos. Por exemplo, a Boca Rosa já havia feito críticas ao Bolsonaro, então não foi um choque pras pessoas ela apoiar o Lula — comenta Daniel Bovolento, especialista em Marketing de Influência: — Como Andrea Sorvetão se lançou candidata a deputada federal bolsonarista este ano, ter se declarado eleitora dele foi um ponto neutro.
Fred Furtado, CEO da Tubelab, que conecta influenciadores e marcas, sugere também:
— Em muitos casos, acontece uma substituição de seguidores. Assim como pessoas que não sabiam que um influenciador era a favor do Bolsonaro descobrem e deixam de segui-lo, outras pessoas que não tinham conexão passam a segui-lo — explica.
A recuperação do número de seguidores também dependeu, principalmente, da presença ativa nas redes nos dias seguintes. Como a profissão já lida com a volatilidade das taxas rotineiramente, os influenciadores sabem que produzir conteúdo é importante para conquistar novos fãs, e quais conteúdos mais agradam. Assim, fizeram uso dessas cartas na manga, como fotos com pets ou caixinhas de perguntas, para retomar seus índices.
Se o comportamento dos "follows" e "unfollows" é difícil prever, por outro lado, o engajamento é certo. Publicações com declarações de votos costumam ser muito curtidas e comentadas, além de atraírem muitas visitas aos perfis pela polêmica.
E as marcas, como lidam?
Nos contratos firmados com influenciadores digitais, as marcas tentam se proteger de ruídos causados em suas imagens porassociação a posturas de influenciadores. Assim, casos de preconceito em geral ou violência que são expostos geram rompimento imediato de contrato. Sobre um posicionamento político, não há uma regra definida.
Segundo o especialista em Branding Galileu Nogueira, há marcas com diretrizes globais que não permitem se associar a influenciadores com posicionamentos políticos explícitos. Em alguns contratos, acrescenta Bovolento, há cláusulas de não posicionamento durante o vigor da parceria. Mas as empresas não costumam levar tão a pé da letra o texto, com receio da exposição pelos famosos e acusações de cerceamento da liberdade de expressão.
— Muitas marcas já entenderam que posicionamento político faz parte do dia a dia do cidadão e é um direito. Mas elas geralmente escolhem influenciadores cujo conteúdo político não é o centro da sua produção — avalia Bovolento, exemplificando: — Um influenciador que fala sobre Beleza, mas se posiciona politicamente não perde tanta publicidade. Mas o influenciador que reverbera sempre política é mais complicado para uma marca.
Por isso, ir além da declaração de voto, como fez Felipe Neto, e se engajar tão ativamente numa campanha pode render maiores prejuízos. Em entrevista ao "PropMark", neste ano, o influenciador contou que chegou a ficar dois anos sem fechar contrato com uma marca operacionalizada no Brasil.
— Os motivos foram os mais variados, desdemedo de algumas agências em função da quantidade de bolsonaristas que me odeiam, até agências e marcas com integrantes bolsonaristas em seus conselhos administrativos, que vetavam meu nome sempre que surgia — opinou.
A saída é se isentar?
Para os especialistas, entretanto, a resposta certa não é se ausentar da discussão política.
— O influenciador que não declara o voto tem o benefício da neutralidade diante das marcas, as marcas gostam. Mas geralmente o influenciador rompe com a audiência. Numa eleição como foi agora, polarizada e super apoiada em princípios ideologicos, a audiência cobrou de muitos influenciadores e percebeu a falta de posicionamento. Isso pode ser irreparável — coloca Bovolento.
Galileu Nogueira concorda, ainda que a queda nos números de seguidores nesses casos seja mais diluída, e mais difícil de perceber.
— Não é de agora. Em 2018 houve uma cobrança por parte dos fãs a pessoas públicas. Se sentiram no direito de cobrar: 'se você vai defender um ideal que é oposto ao meu, eu gostaria de saber isso para decidir se vou continuar comprando sua obra, consumindo seu conteúdo, indo ao seu show'. E isso se repetiu em 2022.
Ele percebe que os influenciadores já entenderam isso.
— O influenciador entendeu este ano que sua vida não pode ser neutra e viver só de publicidade, fugindo de um tema que decidiria o rumo do país pelos próximos quatro anos. Entendeu que era necessário se posicionar e que o momento exigia isso — pontua.
Veja o que aconteceu com 15 influenciadores
As análises a seguir foram feitas por Daniel Bovolento.
- Jaquelline Grohalski
Declarou voto em Bolsonaro no Twitter 8 de setembro.
Análise: Quando crescia, Jaquelline ganhava aproximadamente 400 seguidores por dia. Mas depois de 8 de setembro, sua conta no Instagram passou a conquistar mais 5 mil seguidores por dia. No Twitter, sua média de ganho de seguidores era de 150 por semana, quando acontecia. Na semana em que declarou seu voto, ganhou 10 mil novos seguidores. O movimento voltou ao normal na semana seguinte.
- João Guilherme
Declarou voto em Lula através de vídeo no Tiktok em 1º de setembro.
Análise: A média de crescimento do influenciador no Instagram era de 500 a 1 mil seguidores por dia. Ao gravar o vídeo, mesmo para outra rede, ganhou 2 mil novos seguidores no Instagram. Nos dias seguintes, a média também foi de 2 a 3 mil novos seguidores. No Tiktok não houve alteração de ganho ou perda na média.
- Paula Sperling
Declarou voto em Bolsonaro pelos stories em 1º de outubro.
Análise: Paula perdeu seguidores no dia, mas permaneceu dentro da sua média de variação diária. Voltou ao mesmo patamar de seguidores em 10 de outubro.
- Anitta
Declarou voto em Lula pelo Twitter em 11 de julho.
Análise: Anitta tem um crescimento vertiginoso e irregular no Instagram. Nos dias 11 e 12, o crescimento seguiu dentro da média. No Twitter, o número de seguidores também não variou além da média. Mas o número de likes aumentou e provavelmente a publicação lhe rendeu crescimento no engajamento.
- Gil do Vigor
Publicou foto com Lula no Instagram em 18 de agosto.
Análise: Gil perdeu seguidores no dia, mas permaneceu dentro da sua média de variação diária. A publicação, no entanto, foi uma das que teve melhor engajamento no perfil dele, chegando a três vezes os números de outras fotos.
- Felipe Neto
Declarou apoio à Lula no Twitter em 25 de agosto.
Análise: Felipe já tinha um ganho médio de 3 mil seguidores diários e manteve a média a partir da data sem grandes picos. No Twitter, ocorreu o mesmo: mantendo a média de 4 mil novos seguidores por dia. Até o dia 27 de outubro, Felipe ganhou cerca de 499 mil seguidores na rede social do passarinho.
- Andrea Sorvetão
Publicou foto com Bolsonaro no Instagram em 2 de junho.
Análise: Como Andrea se lançou candidata a deputada federal bolsonarista este ano, ter se declarado eleitora dele foi um ponto neutro. Andrea apresentava um crescimento tímido de cerca de 500 seguidores diários e manteve a média. A foto com Bolsonaro, porém, representou um dos maiores engajamentos de sua conta: subindo de 0,2% para 2,7%.
As análises a seguir foram feitas por Fred Furtado.
- Bianca Andrade (Boca Rosa)
Declarou voto em Lula pelo Twitter em 25 de agosto.
Análise: Entre 24 e 25 de agosto, Bianca ganhou seguidores no Instagram. Entre 25 e 26, perdeu. Pode ter havido um número comum de entradas e saídas de seguidores que neutralizou rapidamente o balanço. A variação, para mais e menos, seguiu nos dias seguintes. No Twitter, ela manteve sua média de ganho de 1 mil novos seguidores por dia.
- Virgínia Fonseca
Publicou stories no dia 2 de outubro, que foram interpretados como apoio a Bolsonaro.
Análise: A influenciadora ganhava dezenas de milhares de seguidores todos os dias, e deixou de crescer por três dias. Ao todo, perdeu na época, 80 mil seguidores. No entanto, já superou atualmente o número de seguidores anterior à postagem.
- Neymar
Publicou stories em apoio a Bolsonaro no dia 29 de setembro.
Análise: O apoio não impactou tanto as redes do jogador. No dia, Neymar ganhou 56 mil seguidores, número abaixo da sua média de crescimento diária. O engajamento do perfil subiu, mas pouco: 1,30%.
- Carlinhos Maia
Publicou foto no Instagram em apoio a Lula no dia 1º de outubro.
Análise: Em quatro dias, Carlinhos perdeu cerca de 120 mil seguidores. O engajamento, no entanto, subiu 2,86% no dia. A foto teve 1,12 milhão de likes, número superior a sua média atual de 517 mil likes nessas publicações. Atualmente, seu número de seguidores já igualou a marca anterior à publicação.
- Arthur Picoli
Publicou foto com Lula no Instagram em 7 de maio.
Análise: No dia, perdeu 28 mil seguidores. O engajamento, no entanto, cresceu 3,69% no dia. A foto superou 500 mil likes, mais de três vezes sua média histórica.
- Yudi Tamashiro
Publicou vídeo no Instagram declarando apoio a Bolsonaro em 2 de outubro.
Análise: Yudi perdeu 22 mil seguidores no dia, mas no dia seguinte ganhou 190 mil. Sua taxa de engajamento subiu 0,66% com o vídeo tendo 533 mil curtidas, número muito superior à média histórica de 42 mil likes. De lá pra cá, ganhou 1,5 milhão de seguidores.
- Gusttavo Lima
Publicou no Instagram registro da sua viagem para apoiar Bolsonaro, em 17 de outubro.
Análise: O artista crescia todo os dias em milhares de seguidores. Mas perdeu 99 mil seguidores no dia e ainda não recuperou o número. O engajamento, no entanto, cresceu 0,64% no dia, com a postagem angariando 2,8 milhões de likes, enquanto sua média histórica é de 447 mil.
- Emily Garcia
Declarou apoio a Bolsonaro nos stories em 1º de outubro.
Análise: A influenciadora tinha variação irregular de seguidores. Após o posicionamento, no entanto, perdeu seguidores por quatro dias seguidos, totalizando 49 mil seguidores a menos. Atualmente, já superou o número de seguidores anterior à postagem. O engajamento no dia cresceu 1,79%.