Fachada do Colégio Estadual Almirante Tamandaré, em Valparaíso de Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Um professor, que preferiu não se identificar, denunciou que a diretora afastada de um colégio por suspeita de racismo e homofobia disse que não o queria trabalhando na gestão dela porque ele é gay. Além disso, o servidor denunciou que a gestora também não queria uma funcionária negra na unidade. À TV Anhanguera, ele detalhou as ofensas, que aconteceram no Colégio Estadual Almirante Tamandaré, em Valparaíso de Goiás, no Entorno do Distrito Federal.
“Aquele veadinho imprestável. Ele não serve para dar aula. Não quero ele aqui, nem aquela negrinha nojenta. Na minha gestão, eles não vão ‘tá’ mais aqui”, relatou.
O g1 tentou contato com a diretora no dia 24, na terça-feira (28) e nesta quarta-feira (29), por mensagem e ligação, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
De acordo com a Secretaria de Estado da Educação (Seduc), a diretora foi afastada na última segunda-feira (27). Além do afastamento, a pasta informou que foi instaurado um processo disciplinar para apurar o caso e foram adotadas medidas para designar um substituto imediato para o cargo (leia nota completa no fim da reportagem).
Segundo a Seduc, o coordenador da unidade foi demitido um dia depois do afastamento da diretora, que é concursada. De acordo com a delegada Samya Barros, as vítimas eram difamadas pelo funcionário na frente de outros servidores.
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O g1 não conseguiu localizar o coordenador para um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
Depoimentos
Até esta quarta-feira (29), 5 vítimas denunciaram o caso à polícia. Uma servidora que preferiu não se identificar disse que foi humilhada enquanto limpava o chão.
“Eu fui lá, lavei, peguei a casa de banana, joguei no lixo e lavei o chão. Nesse momento que eu estava fazendo essas coisas todas, ela ficou perto de mim e rindo. Fiquei super abalada, até chorei”, contou.
Outra funcionária disse que trabalhou por quase dois anos no colégio e começou a ser humilhada pela diretora depois que teve um problema de saúde. Após as humilhações, ela contou que pediu transferência.
“Por causa das perseguições e do jeito que ela falava com a gente, gritava, humilhava, tudo que vocês pensarem, ela fazia”, relembrou Neuza Maria.
Vítimas
De acordo com o advogado das vítimas, Suenilson Saulnier, até o momento registraram a denúncia dois funcionários da conservação e limpeza, um professor e uma ex-coordenadora, que pediu e conseguiu transferência para outra unidade escolar. O cargo da quinta pessoa não foi divulgado.
O advogado ainda considerou as denúncias como "extremamente graves", em um ambiente que "deveria ser de ensino e aprendizado" (veja nota completa ao final da reportagem).
A polícia explicou que a investigação está na fase de ouvir os depoimentos das vítimas. Segundo a delegada, uma das funcionárias contou ter sido acusada pela diretora de furtar produtos da escola.
O advogado das vítimas acrescentou que essas ofensas contra os funcionários ocorrem há cerca de quatro anos.
Nota Seduc
Em atenção à solicitação de informações acerca de denúncia contra a gestora do Colégio Estadual Almirante Tamandaré, em Valparaíso de Goiás, a Secretaria de Estado da Educação de Goiás esclarece:
A gestora do Colégio Estadual Almirante Tamandaré, servidora efetiva da rede, foi afastada preventivamente do exercício de suas funções nesta segunda-feira (27/03), ficando sem auferir as vantagens pecuniárias exclusivas de gestor escolar;
Foi instaurado processo disciplinar para apuração dos fatos e responsabilização, conforme prevê a legislação, e adotadas medidas para designar um substituto imediato para o cargo.
O coordenador da unidade escolar também foi afastado e teve seu contrato com a Seduc/GO rescindido.
Nota na íntegra do advogado das vítimas
"Estamos diante de denúncias extremamente graves por parte de quatro servidores, envolvendo em tese os crimes que vão do assédio moral, injúria , difamação, calúnia, homofobia e racismo. Tudo isso em um ambiente que deveria ser de ensino e de aprendizado. Por óbvio haverá a oportunidade a defesa dos envolvidos, contudo em se confirmando as acusações, é um escândalo sem precedentes na estrutura da educação pública estadual. Acreditamos tanto no compromisso da Secretaria de Estado da Educação, como na Polícia Civil do Estado de Goiás, enquanto a uma apuração célere, isenta, e dentro dos preceitos legais."
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