O laboratório Cosmobeauty, responsável pelo produto de preenchimento que pode ter causado complicações em pelo menos quatro mulheres, emitiu um comunicado solicitando o recolhimento do lote, na última quinta-feira (29). De acordo com a empresa, o produto será encaminhado para análise de pesquisa.
“Solicitamos que distribuidores e parceiros entrem em contato com o departamento técnico para receber todas as instruções e orientações devidas para o envio/troca do lote”, diz o laboratório. O comunicado também pede pela suspensão da comercialização do produto.
O produto utilizado é um composto de ácido hialurônico reticulado e hidroxiapatita de cálcio, descrito como um “ácido hialurônico com um bioestimulador”. Conforme a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ele teve sua notificação como cosmético cancelado em junho do ano passado. Por isso, teve seu recolhimento ordenado pelo órgão, já que não pode ser vendido e nem utilizado.
No entanto, durante as investigações, a Polícia Civil descobriu que pelo menos 38 caixas do preenchedor foram comercializadas em um evento realizado em Goiânia, no último dia 19 de junho.
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À TV Anhanguera, a Cosmobeauty informou que está colaborando com as investigações e se defendeu, alegando que o produto supostamente usado nas pacientes está regularmente registrado na Anvisa e que não houve cancelamento do registro. Disse que a empresa determinou o recolhimento do lote até que seja constatada a eficácia do produto, sem oferecer qualquer risco à saúde.
O laboratório afirmou, ainda, que está certo de que ficará demonstrado que não há qualquer irregularidade. Enfatizou que acredita que o produto não causou danos às pacientes e que vai prestar assistência a essas mulheres.
A Secretaria de Saúde de Goiás informou que a Vigilância Sanitária Estadual acompanha o caso e auxilia nas investigações e no trabalho das vigilâncias municipais.
Vítimas
O produto começou a ser investigado após a repercussão do caso de Betânia Lima Guarda, de 29 anos. A profissional autônoma fez um preenchimento no bumbum, em uma clínica que fica no Setor Urias Magalhães, em Goiânia, na última sexta-feira (23).
Pouco tempo após o procedimento, a mulher começou a ter complicações. O ex-marido da jovem, Cláudio Fernandes, afirma que ela teve embolia pulmonar, ficou quatro dias internada na UTI e ainda se recupera no hospital.
Betânia Lima Guarda foi internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) depois de ter feito um preenchimento no bumbum com uma esteticista em Goiânia — Foto: Reprodução/Redes Sociais
A defesa da esteticista disse ao g1 que não vai se pronunciar
Outra vítima, segundo a polícia, é uma mulher de 43 anos, que aplicou o preenchedor em uma clínica no Jardim Ibirapuera, em Aparecida de Goiânia. Há uma semana, ela teve sete paradas cardiorrespiratórias e continua internada.
Também segundo as investigações, na mesma clínica de Aparecida, uma outra mulher, de 41 anos, teve complicações sérias após usar o produto durante um procedimento no rosto. Ela ficou internada por dois dias e se recupera em casa.
À TV Anhanguera, a clínica localizada em Aparecida disse que o produto não deveria estar no mercado e que, a venda dele, levou a clínica ao erro ao aplicar a substância nas pacientes. Alegou também que as esteticistas são habilitadas.
A quarta vítima é uma paciente do estado do Paraná. Segundo a polícia, ela passou mal após fazer um procedimento do mesmo produto e precisou ser internada. Apesar de já ter recebido alta do hospital, continua tendo dificuldades para respirar.
Investigações
Desde que o inquérito foi instaurado, amostras do produto foram recolhidas e encaminhadas para o Instituto de Criminalística de Goiás para análise. Além disso, os prontuários médicos das vítimas estão sendo estudados pelo Instituto Médico Legal (IML). O objetivo é tentar entender o que pode ter causado as reações.
Segundo a polícia, até o momento, já foram recebidas denúncias de vítimas de Goiânia, Aparecida e do estado do Paraná. A delegada Emília Podestà, responsável pelo inquérito, afirma que todas as mulheres passaram mal após fazerem uso do mesmo produto, do mesmo lote.
“O que a gente sabe é que é o mesmo produto, o mesmo lote, da mesma empresa, e que foi adquirido no Paraná. Os sintomas são os mesmos: dificuldade respiratória, encaminhamento para a UTI, necessidade de intubação e internação prolongada”, diz a investigadora.
Entre outras coisas, a investigação busca entender se quem aplicou as substâncias está habilitado a fazer esses tipos de procedimento. Especialmente porque, nenhuma das clínicas de estéticas de Goiás, que estão envolvidas no caso, possuem alvará de funcionamento e nem autorização da Vigilância Sanitária.
O produto utilizado é descrito como um “ácido hialurônico com um bioestimulador” — Foto: Reprodução/Essência Brasileira
Quem pode ser punido?
De acordo com a delegada, por enquanto, os crimes investigados são: lesão corporal grave e crime contra a saúde pública. Caso seja comprovado que houve um problema com o produto, o laboratório que detém a marca e a empresa fabricante serão responsabilizados criminalmente.
Já as esteticistas, responderão por exercício ilegal da profissão caso não sejam habilitadas para isso.
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