A Fifa anunciou nesta semana que em 2030 Copa do Mundo será disputada pela primeira vez em três diferentes continentes, quando o torneio terá como sedes principais Portugal, Espanha e Marrocos, mas também jogos em Uruguai, Argentina e Paraguai. O formato surpreendeu o mundo do futebol e foi alvo de muitas críticas. E também dividiu opiniões entre diferentes especialistas do mercado esportivo.
- A proposta parece estranha ou absurda à primeira vista, mas penso que não é, e confesso que é uma solução interessante para uma demanda que é certa, relacionada ao simbolismo associado ao centenário da competição. Muitos lamentaram as Olimpíadas de 1996 nao terem sido realizadas em Atenas, quando os jogos modernos completavam cem anos. Muitos já cobram que o Mundial de 2026 deveria começar e terminar no Estádio Centenário, que sediou o primeiro mundial. Mas nem Atenas nem o Uruguai tinham e terão as condições adequadas, ou as melhores, para sediaram os torneios. Um jogo inaugural com a seleção uruguaia, primeira campeã, no Uruguai, sede da primeira Copa, é suficiente a meu ver, como homenagem e valorização da memória da competição. Os jogos na Argentina e Paraguai, já parecem ser uma compensação para essas duas confederações que vislumbravam candidatura conjunta - afirmou Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento comandada pelo cantor Jay-Z e que se tornou controladora da TFM Agency, que gerencia as carreiras de Vini Jr, Paquetá, Endrick e Gabriel Martinelli.
Armênio Neto, especialista em negócios do esporte e sócio fundador da Let's Goal, apontou que a escolha de espalhar a Copa do Mundo em três países diferentes pode ter complicações.
- Os custos de uma Copa do Mundo compartilhada são menores para cada país sede e estão se tornando tendência. A logística de uma Copa em Portugal, Espanha e Marrocos não é complexa. O que parece estranho é jogar partidas na América do Sul e depois na Europa. Difícil prever se fará sucesso ou não, mas é uma mudança que impressiona, mexe com a tradição e o charme de uma sede única, de catalisar atenções para um país e expor sua cultura para o mundo. E também afeta o equilíbrio, afinal, alguns times jogarão em casa durante parte da competição.
A princípio, os jogos que serão realizados na América do Sul ficarão concentrados no começo da competição. O presidente da Federação Marroquina de Futebol chegou a dizer que tais jogos ocorrerão uma semana antes do restante.
- A organização do futebol é um ambiente avesso a grandes mudanças, porém, a Fifa já vem mudando a Copa do Mundo, quando por exemplo passou de 24 para 32 seleções, onde houve uma mudança grande e é perceptível que houve uma perda de qualidade técnica. A partir da Copa de 2026, com 48 seleções, não há dúvida que haverá outra grande perda de qualidade técnica, portanto é uma mudança. Teremos ainda uma Copa do Mundo em 2026 organizada em três países, outra mudança. O que não tínhamos ainda é ela acontecer em três continentes. É claro que quando você olha Espanha, Portugal e Marrocos, territorialmente e logisticamente faz todo o sentido, porque são países que são praticamente limítrofes, e para quem e onde a logística e o deslocamento não é difícil. Agora, quando você agrega a América do Sul, inevitavelmente isso trará algumas dificuldades - opinou Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito desportivo e sócio do Carlezzo Advogados.
Em termos de marketing, entretanto, a iniciativa é vista como uma boa possibilidade de exploração.
- É uma edição centenária, isso é histórico. Acredito que os departamentos comercial e marketing vão ter uma oportunidade única de criar uma bela história para envelopar as propriedades desta Copa, e como são vários continentes, multiplica-se também as formas que as marcas podem estar presentes de uma forma inesquecível", diz Renê Salviano, CEO da Heatmap, especialista em marketing esportivo e que faz a captação de contratos entre marcas envolvendo profissionais do esporte.